domingo, 12 de outubro de 2008

Enquanto durmo, a célula vive.

Hoje acordei e não encontrei a coragem de levantar.
Procurei entre as cobertas e debaixo dos travesseiros; não houve jeito.
Não sei se foi culpa da inércia, que me lembrou da tendência de permanecer como estava, ou da gravidade, que insistia em me tornar cada vez mais íntima do meu colchão.
Após alguns breves minutos de uma luta acirrada com o conforto e o calor do meu canto, mãos ao alto! \o/ Tudo bem, rendo-me. -.-‘
Tem uma certa maneira adequada e indicada para levantar-se sem prejudicar a coluna; tentei lembrar em vão! Admito, era só uma forma ridícula de ganhar mais um tempinho no lugar onde eu queria permanecer por mais uma eternidade.
Enfim, estou de pés no chão e nem sei qual foi o primeiro a sentir o azulejo gélido. Talvez tenha eu posto ambos simultaneamente. Isso me confere alguma vantagem?
Liguei o botão de automático e lá vai a vida me levando, seguindo um rumo já traçado, uma rotina incessante, ora tão desejada ora tão desprezada.
Questões de educação jamais são esquecidas, muito embora seja melhor um silêncio simpático a um cumprimento forçado pelo hábito, sem qualquer expressão.
“Step by step”, sem pressa de chegar, afinal não sei ao certo para onde estou indo.
O dia se prolonga tanto que chego a confundir as estações e me situar num solstício.
Quando, por fim, alcanço a noite, quase que sem querer, meu corpo se apressa em demonstrar à minha cama a saudade que ela o fez sentir por tão longo período.
E, então, encontro-me de volta ao lugar que deveria ter sido todo meu por todo aquele dia difícil de viver, por inexistência de vontade. Um dia daqueles...
Um dia perdido? Talvez nulidade; anulação, não.
Conhecimento adquirido por osmose. Sou célula viva.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um passo difícil.

Muitos foram os empecilhos que me tentaram. Confesso, a desistência estava batendo à minha porta incessantemente. Como brasileira nata, lá fui eu.
Mochila nas costas, chaves às mãos e coração na boca. Tantas eram as emoções que me cerceavam naquele momento que nem sei dizer qual era mais forte.
Um choro de criança, ao longe, me atrasava os passos; uma canção bem calma, tão perto, me encorajava a seguir.
É difícil tomar decisões na vida, principalmente quando delas surge o duelo entre a razão e a emoção. Pra variar, fui racional. Creio que acertei.
Estava eu, ainda com expectativas duvidosas (se é que existiam), e, de repente, como providência divina, eu já sabia que estava exatamente no lugar que deveria estar.
Você já escreveu uma carta pra você mesmo? Não é tão simples assim...
Nós sempre achamos que temos intimidade suficiente com nós mesmos e, na hora da verdade, fica difícil confessar-nos nossas fraquezas. Sempre foi um desafio humano confessar seus próprios erros.
Como você iniciaria uma carta para você mesmo? Linguagem formal ou coloquial? Seria espontâneo ou conciso? Escreveria muito sobre você ou mais sobre os outros? Você acha que seria imprescindível falar a seu respeito ou você acha que é desnecessário, já que você, teoricamente, já se conhece?
Alguns dias depois, você relê sua carta. Estranho, não? Você poderá perceber que as coisas nem sempre acontecem justamente como você gostaria e esperava. Percebe que, por tantas vezes, elas foram ainda melhores.
A vida, de fato, é feita de escolhas e, por sua vez, estas somente serão tomadas no momento exato em que serão cobradas. Não me venha com um bonito discurso de que você tem plena convicção do que vai fazer e nada mudará sua decisão, porque apenas as circunstâncias do momento dirão o que tem que ser feito.
Um passo evitado pode mudar todo o curso de uma vida. Um passo a frente pode, subjetivamente, levá-lo ao futuro, como também poderá fazê-lo regredir 10 anos. É como estar diante de um abismo. Nessa hipótese, você ainda acha que o melhor é mesmo seguir em frente, independente dos obstáculos?
Eu prefiro suprimir a minha vontade e parar. Parar na vida não significa parar a vida. Existirão mesmo situações nas quais você será obrigado a parar, a silenciar, a engolir uma vaca de lado. É aí que você demonstra quão grande você é. Um conflito só é bem resolvido quando ambos os lados ganham. Ganhar nem sempre é levar o troféu pra casa, mas, principalmente, saber reconhecer seu ponto fraco e a “suposta” superioridade alheia.
Se quiser seguir em frente diante de um abismo, voe! E, antes, verifique se suas asas estão aptas para uma viagem sem destino.