quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O sacramento de cura.

Procurei a melhor posição na cadeira. Haviam dito para ficarmos à vontade. Eu já estava bem; fechei os olhos.

"...e então ela se consertou, levantou e pôs-se a andar."

Foi aí que, quase sem perceber, senti necessidade de corrigir aquela postura que, outrora, me fizera sentir bem.
O fardo que carregava me foi aliviado. E se, ao adentrar aquela sala, me encontrava em "tempo tranquilo", agora eu a deixava em "consolação".

Descruze os braços. Tente cruzá-los do lado contrário.

A-C-H-E-I. Assim, para mim, finalizou-se aquela reunião, enquanto o anjo dedilhava seu violão.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Na desrritimia do órgão vital.

Indispensável a viagem por entre as cores diversas do arco-íris. Ao fim, o pote de ouro. SIM, ele está lá. Brilha, ofusca. Tão platônico!
Não se sabe a origem do medo. Ele apenas surge, e impede uma reação. Não reagir é uma reação.
É tão sincero, parece inatingível. Mas um dia acaba. Eu sei que sim. É sempre assim. Some. Sem rastros. Busque-o no mais improvável.
Atônita, mais uma vez paralisada. Uma dúvida. Muitas dúvidas. Incertezas. A incógnita da consideração. Tantas partes formam um todo!

"Deito-me sobre seu peito e ponho-me a ouvir o pulsar do seu coração. Em espírito esportivo, permito-me comentar meu equívoco. A seriedade me traz de volta à realidade. Não se trata de uma brincadeira.
Do lado DIREITO articulo tais palavras:
-Estou ouvindo seu coração.
Ensaia-se um riso tímido. E, novamente, me pronuncio:
-Mas ele está do lado errado!!!
E, então, só então, muda-se o tom do diálogo. Ele profere as mais inesperadas e, no fundo, desejadas palavras:
-É pra ficar mais perto de você, sabia?"

Emudecida pela força do sentimento, guardei aquela cena na memória. E no coração. Um coração que talvez devesse bater em sintonia com aquele que estava tão perto de mim. Guardo a mim no coração dele, e o guardo no meu. Coração autônomo.
Ele nada esquece.

Foi uma longa noite.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Sofisma.

Viver é um ofício que, às vezes, exige uma fuga sem planejamento prévio. Artifícios da mente. Imaginação. Para sentir-se só, refugie-se na escuridão de um quarto vazio ou misture-se à multidão. Solidão é estado de espírito. Glorifique ou ignore a presença alheia. Se faça presente mesmo distante ou faça-se distante mesmo presente.
Escolher é sempre uma tarefa difícil. É diferente de optar. Requer renúncia, produz lembranças lá adianta e, quem sabe, auto-mutilação. Uma escolha não finda no ato. Vai além. Alcance suas diretrizes precocemente. A vida é feita disso.
Percorro esse labirinto sem desejar o fim. Quero dar voltas e voltas, e voltar. Perder-me. Encontrar-me. Encontrarem-me. Sentar, cansar e voltar. Olhar por cima, olhar por baixo, e voltar. A vida, no fim, sempre acaba no mesmo lugar.
O fim: um recomeço.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Talvez um bom começo.

Às vezes sigo à risca cada regrinha a que me submeto. Subitamente, como que acabasse de acordar de um sonho, tudo vira ao avesso. Parecia tão real.. a nitidez das imagens, o gosto da água, o perfume das rosas. Regras são meras limitações. Não nasci com um fim determinado, meu livre arbítrio é meu amigo e eu escolho o caminho que quero seguir. Vou até onde me é permitido e só páro pra descanso. Que insistência em dizer o que devo ou não fazer. Não sou mais uma criança, ou talvez eu seja, mas quem poderá afirmar o melhor pra mim? Observe apenas o melhor de mim. Ontem, ao caminhar por entre as árvores, desfrutando sua sombra e, humildemente, me deliciando ao vento que me bagunçava os cabelos, deparei-me com o que havia de mais sombrio em mim mesma. Não sei como definir minha reação, um misto de assombro e expectativa. Naquele momento, com os pensamentos mais leves que plumas, pensei em mim e não me encontrei. Pensei em quantas vezes eu havia me declinado sobre uma mesa para produzir algo de real valor, quantas vidas já dependeram da minha pra permanecer em consciência, quantas vezes fiz diferença para alguém, quantas sementes já plantei. O mais inacreditável é que eu não soube responder. Me pus, então, a analisar. É extremamente depressivo não saber contar. Pior ainda é ser gênio da matemática e não ter o objeto de estudo. Sei que minha efêmera existência até aqui não foi em vão, reconheço que já colhi bons frutos de gestos puros. Mas não posso contar. Não sei onde, quando ou pra quê. Tendo em vista a necessidade de ostentar o silêncio, no fundo do verdadeiro significado de "próximo", almeja-se exatamente aquilo que me amedontrou. Uma incoerência. Objeção. Na contradição do mundo, as palavras se confundem e nos dão as respostas. Opostas. Compostas. Impostas. E assim, me afogando em minhas próprias dúvidas, uma luz no fim do túnel. Um bote salva-vidas. Diante das inúmeras definições de certo e errado, descobri o requerido. Não estou no caminho mais curto, pelo menos evito encontros indesejáveis. Lobo mau. Tô na rota paralela, ao invés da principal, mas tô indo para onde desejo. Alguém me aguarda lá. Só saberei quando eu chegar. Quando chegarei? Não sei. Mas reencontrei meu próprio eu, que havia se perdido no caminho. Tá apontando o meu destino. E lá vou eu..