quinta-feira, 22 de março de 2012

Um dia acontece. Ele se vai. Você fica parada olhando ele arrumar a mala, cada gesto te dizendo: EU NÃO TE QUERO MAIS. Você até que poderia chorar, implorar, pedir desculpas por algo que você nem sabe que fez, mas você já fez tudo isto antes. Algumas vezes. E agora você já não está muito certa de que vale a pena. Você não sabe direito o que se passa dentro de você. Reconhece a dor que já vem caminhando com você há um bom tempo.Reconhece o medo – como é que vai ser; será que eu dou conta sozinha? Reconhece a sensação de fracasso. Reconhece o cansaço. Mas é uma sensação novinha em folha, bem escondidinha na borda do coração é que faz você ficar ali, só olhando. Antes que você consiga identificar o que é, ele fecha a mala e com ela caminha até a porta, cheio de impáfia. Sem saber o que te move, você se adianta e abre a porta pra ele. A frase clichê de cena de efeito em filme barato escapa irresoluta de sua boca, com um sapo repentinamente liberto. Se você sair, não volta mais. Sem sequer se dignar a olhar na sua cara, ele passa reto com um sorrisinho de escárnio. Naquele momento você sente que, não importa quantas vezes vocês tenham protagonizado cenas patéticas como aquela, desta vez é mesmo pra valer. Já deu. Acabou. Você fecha a porta com uma calma gelada. Tranca bem trancada. Passa o ferrolho. Pega alguns sacos de lixo e joga nele as roupas e objetos que ele deixou pra trás e sente uma vontade real e irrestrita de jogar tudo pela janela, mas pensa que mais escândalo a esta altura do campeonato não vai fazer nenhum bem a você. Deixa tudo empilhado ao lado da porta da cozinha e decide limpar imediatamente todos os traços dele em sua casa. Sai andando pela casa com um incenso nas mãos rezando uma benzeção e jogando sal grosso nos cantos. Enquanto passa vão sumindo fotos, livros, cds. Tudo indo literalmente pro saco. A casa se esvazia e você se esvai.Exausta, corre pro banho de roupa e tudo. Abre o chuveiro até o talo e deságua. Chora até não poder mais. Deixa o coração escoar pelo ralo até derreter. Quando sai do banheiro parece que nada é real ou existe. Você flutua no limbo. Anestesiada liga a TV e senta-se à frente dela, tal qual personagem dA Volta dos Mortos Vivos. Sem saber de si a dor, tristeza ou desilusão reencontra aquela sensaçãozinha escondidinha na borda do coração que a manteve parada, a observá-lo arrumando a mala. Tímida, envergonhada, ela se apresenta e você suspira por reconhecê-la: alívio!

Um dia você acorda e, finalmente entende que você nada perdeu. Seu coração continuou batendo incólume, sua alma permaneceu completa, sua vida se refez, seguiu. O amor nunca chegou, nem partiu, porque sempre fez parte de você. E sempre vai estar lá, pronto pra recomeçar. E você ri de dor tão boba, esta dor de amor finado. Dor que nem remédio tem, pois que já nasceu remediada.

Um dia, acontece!

Claudia Regina Barros

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